sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Arte e Patrimônio Cultural



EMEF PRESIDENTE ROOSEVELT

O que é patrimônio?

     Quando falamos em patrimônio, pensamos logo em bens, em objetos de valor.
     Pensamos em coisas que vão sendo construídas e acumuladas no decorrer do tempo, ao longo da existência... Coisas que podem ter um valor econômico, mas também valor efetivo, de uso, ou mesmo um valor simbólico. Herança paterna, e nesse sentido, também tem a ver com a pátria, e que podem referir-se a um complexo de bens, materiais ou não, sujeito a direitos e posses.

     E Patrimônio Cultural?
     Trata-se também de um conjunto de objetos ou bens de valor, com significado e importância para um grupo de pessoas. O Patrimônio Cultural de uma sociedade, de um país, diz respeito a sua cultura, que é todo o conhecimento que uma sociedade possui, é um processo dinâmico que se manifesta nas artes, na ciência, na tecnologia, na política, na religião, nas relações do cotidiano e que se utiliza das ideias, palavras, teorias e políticas diversas para se expressar. Logo, o Patrimônio Cultural é um produto coletivo, formado pelo conjunto de realizações de uma sociedade, e que vem sendo construído ao longo de sua história. Pertence, portanto, a todos os cidadãos. São essas realizações, produtos do trabalho e da criatividade de todos, que distinguem as sociedades e grupos sociais uns dos outros, dando-lhes seu sentido de identidade cultural.

Festa de Santo André, padroeiro de Ituberá (2011) | Foto: Vange Medeiros

 Bem, se toda a produção de uma sociedade ou de um grupo social é o seu Patrimônio Cultural, então:
1.  Esse patrimônio não é algo que foi criado uma vez e permanece sempre igual; a criatividade de um povo continua se expressando continuamente, inventando, mudando, adaptando seu modo de vida, de acordo com o processo dinâmico da cultura.
2.  Não apenas as obras de arte fazem parte do patrimônio cultural; ele também inclui os objetos de uso diário que são utilizados pelas pessoas nos diferentes períodos da história: vestimentas, adornos, objetos de culto, instrumentos e equipamentos domésticos e de trabalho etc.
3.  O Patrimônio Cultural brasileiro está construído não apenas pelas obras do passado, mas também por uma cultura viva e variada, graças à rica diversidade cultural do país.
     Tudo o que é produto da ação consciente e criativa dos homens sobre o seu meio ambiente, é Patrimônio Cultural. Esses bens e valores do Patrimônio Cultural podem ter um caráter material – objetos concretos – ou não.
     As ideias, teorias, doutrinas, os modos de fazer e viver, são bens não-materiais. Através deles, a humanidade evolui, conhece melhor a si própria e ao Universo, e garante sua sobrevivência no seu meio ambiente.
     Já os bens materiais, estes correspondem ao produto concreto das ações dos seres humanos, dependendo, portanto, do conhecimento acumulado pela sociedade, dos meios e instrumentos disponíveis, da criatividade de seus autores, do próprio meio ambiente, e englobam toda a sorte de coisas, objetivos, artefatos, construções.

Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição | Foto: Raphael Monteiro (2010)

     Por quê preservar?
     Respeitar. Conservar, Defender. Manter a integridade dos traços que definem o bem. Preserva-se por respeito à natureza, à história, às coisas, e aos homens que produziram essas coisas: os bens culturais que nos cercam. Preserva-se por respeito ao direito das gerações futuras de conhecer e usufruir do que foi produzido por seus antepassados. Por respeito à memória.

     É assim que o mundo progride.
     E a evolução se faz pela soma das conquistas. Lamentavelmente, nem todos possuem a mesma consciência da importância do seu Patrimônio Cultural, levando à destruição e à perda de uma grande quantidade de bens de incalculável valor, por serem testemunhas insubstituíveis da história de um povo.

     Assim, por exemplo, a especulação imobiliária pode vir a destruir áreas de interesse ambiental ou paisagístico, imóveis ou conjuntos arquitetônicos e urbanísticos de grande valor histórico; grandes empreendimentos econômicos, como usinas, garimpos, plantações em grande escala, eventualmente, destroem sítios arqueológicos, paleontológicos, científicos, além de comprometer o meio ambiente. Isto, sem falar das interferências e modificações que podem vir a provocar nos hábitos, valores e costumes de pequenas comunidades e de grupos indígenas.

     Cada cidadão, portanto, deve ficar atento às iniciativas que visam lucros ou vantagens imediatistas para uma pequena parcela de indivíduos, sem se preocupar com as consequências futuras, essas iniciativas poderão causar enormes prejuízos ao Patrimônio Cultural que pertence a todos.
     O Patrimônio Cultural é um bem que, se preservado, possibilita a evolução da humanidade em busca de conhecimento, liberdade e qualidade de vida. É preciso garantir, então, que todos tenham acesso, igualmente, aos bens culturais que constituem o seu patrimônio.

Vista aérea do Dique de Ituberá durante festa de São João (2013) | Foto:  Duda Damásio


     Patrimônio tangível municipal

     A cidade de Ituberá não se caracteriza apenas pelas suas ruas e prédios, mas também pelos espaços que surgiram e modificaram-se ao longo dos anos. O Patrimônio Cultural de Ituberá vai além de seu patrimônio arquitetônico, sua implantação, seu desenho urbano. Ele está diretamente ligado à história da ocupação do território brasileiro, através da navegação e dos caminhos que ligaram este ponto do litoral ao interior do estado da Bahia.
     Este fato da história brasileira dá ênfase ao patrimônio da cidade de Ituberá. A cidade encontra-se harmoniosamente inserida na paisagem. Entretanto, observa-se uma expansão urbana desordenada em direção ao manguezal.

     A área urbana de Ituberá está localizada no vale do Rio Serinhaém, num trecho mais ou menos plano, rodeado por morros onde se encontram ainda remanescentes de vegetação da Mata Atlântica. Do ponto de vista da morfologia urbana, a topografia, o rio e a vegetação, são os elementos principais da configuração deste espaço.

     A vegetação emoldura a paisagem e a presença dos morros possibilita a existência de pontos de visuais de extrema importância para o entendimento da dinâmica urbana da cidade. Desses visuais descortinam-se belas paisagens do estuário do Rio Serinhaém e todo o desenho da cidade, onde se pode observar sua espacialidade e sua relação com o espaço natural – rio e encosta.
     Seu sítio primitivo localizado na parte alta – atual Vila de Santo André – possui um traçado típico dos assentamentos jesuíticos dos primórdios da colonização, à semelhança de outras aldeias localizadas no litoral brasileiro, como Trancoso e Porto Seguro.

     Neste sítio, encontramos o primeiro monumento religioso da cidade, a Igreja de Santo André, erguida no local da primitiva capela jesuítica. A igreja está localizada em uma das extremidades da praça com a fachada principal voltada para uma grande avenida – antigo terreiro onde a população se reunia – onde se desenvolvem suas residências.

     Sua fachada, voltada para o poente, sem torres e bastante alterada parece-nos inacabada. A igreja possui planta retangular, com sacristia lateral e cobertura em duas águas. O frontispício apresenta janelas coroadas por arcos plenos e portas encimadas por frontões.
     Em frente à igreja, no local do antigo terreiro dos jesuítas, desenvolve-se um casario singelo de casas justapostas, implantadas na testa da rua, com grande homogeneidade volumétrica, e uma tipologia, em sua maioria, de porta e janela, delimitando a larga avenida que hoje se encontra no local.
     Mantendo uma tradição, a cidade realiza neste local a festa popular em veneração a Santo André , que conta com a participação da população da cidade e de regiões próximas.
     No nível intermediário, na descida do morro em direção a parte baixa da cidade, o casario que ocupa espaçadamente as curvas de nível, contrasta com a vegetação da encosta, que serve como plano de fundo da paisagem, tornando o especo aprazível e mantendo a relação da cidade do cinturão verde que a circunda.

     Ainda na descida do morro, encontra-se em destaque a matriz da Igreja de Nossa Senhora da Conceição . Vale ressaltar que a matriz funciona, morfologicamente, na cidade “como ponto de força”, pois de vários pontos sua torre é visualizada, marcando a subida para a Vila de Santo André e possibilitando ao observador se localizar no contexto urbano.

     Construída na primeira metade do século XIX, a matriz de Nossa Senhora da Conceição está edificada sobre um terrapleno, possuído acesso através de uma grande escadaria, construída em 1930, juntamente com o adro e com o cruzeiro que está localizado no patamar intermediário desta escadaria.
     Sua fachada está subdividida em dois corpos, sendo emoldurada por cunhais e cornija. Seus vãos são emoldurados por verga abaulada, encimada por friso ondulado. O corpo lateral da fachada se prolonga dando origem a torre sineira, revestida de pastilhas, com terminação em bulbo com lanternim. A parte central do frontispício é coroada por um frontão de volutas ainda singelas.
     Na parte baixa da cidade, encontramos um sítio com ruas amplas, característica urbana do final do século XIX e início do século XX, este padrão urbanístico cria uma sensação de amplitude num espaço naturalmente reduzido pelo envolvimento de morros cria um contraponto com as ruas estreitas e sinuosas que entrecortam o morro e se espalham pela cidade em direção ao porto.
     Ao se analisar a arquitetura civil presente na parte baixa da cidade de Ituberá, verifica-se que esta apresenta, principalmente, edifícios de pequeno porte (um ou dois pavimentos), na sua maioria sem afastamento lateral, como são os exemplos de casas localizadas nas ruas Viana, Getúlio Vargas, Dr. Antônio Lemos Maia e Barachisio Lisboa, Casas de porta e janela, com telhado em duas águas e alguns exemplares, mais recentes, que apresentam platibandas e elementos decorativos característicos do final do século XX.

     Nota-se que alguns sobrados também sofreram modificações, procurando adequar-se aos novos estilos e à nova posição social galgada pelos seus proprietários. Estes edifícios, apesar de possuírem nas suas base uma estrutura formal e construtiva dos séculos XVIII e XIX, apresentam elementos decorativos que caracterizam as construções de estilo eclético ou do ar decô, como novos ornamentos, novas proporções nos vãos e novos estilos de esquadrias, que denunciam as transformações sofridas no processo de assimilação do “novo estilo” arquitetônico.
     Podem ser apreciados também alguns exemplares da arquitetura civil que se destacam por possuírem, além do valor histórico, um valor artístico, destacando-se na malha urbana pelo seu porte, tratamento adornativo, tipologia ou ainda pelo período de construção. Entre estes vale citar o sobrado do século XIX localizado à Praça Tiradentes, as casa da rua Barachisio Lisboa e o antigo Clube dos 25, hoje em estado de arruinamento.

     Na Praça Tiradentes e nas ruas mais próximas ao cais, encontram-se ainda sobrados que possuíam dupla função: comércio no pavimento térreo e residência no pavimento superior, características essas típicas da arquitetura do século XIX, principalmente nas cidades como Ituberá, que foram entreposto comercial.
     Entre os exemplares da arquitetura oficial existentes na cidade, destacamos o prédio da antiga Prefeitura Municipal, localizado à rua Barachisio Lisboa e o prédio da antiga Câmara de Ituberá, localizado na rua Ruy Barbosa.

     O edifício da Prefeitura, em estilo eclético tardio, construído entre as décadas de 10 e 20, possui planta retangular, sendo seus cômodos distribuídos em dois pavimentos. A fachada é coroada por platibanda, e na sua composição formal, ocorre uma predominância de vazios sobre cheios. As janelas rasgadas do pavimento superior são resguardadas por guarda-corpos de alvenaria que formam pequenas tribunas, sustentadas por balcões de massa. Já a Câmara possui partido em dois movimentos, planta retangular com fachada coroada por platibanda, e ornamentos bastante simplificados.
     Não podemos deixar de falar da vegetação planejada que também faz parte do Patrimônio Cultural de Ituberá. Inserida na mancha urbana, basicamente na Praça Tiradentes, ruas J. J. Seabra e Saúde, nas avenidas Hildebrando de Araújo Góes e Duque de Caxias, com alguns remanescentes de árvores que outrora eram podadas e davam a marca no perfil da cidade.
     Encontra-se também na zona rural e litorânea de Ituberá antigas casas de farinha e engenhos de dendê, ambos em perfeito estado de conservação e em utilização.
     Todo este patrimônio construído constitui o suporte físico da cidade de Ituberá. As modificações sofridas em consequência da ação do próprio homem determinam os diferentes níveis de interesse, inspirando Lia Motta (1994) à concluir que:
(...) Toda cidade tem sua história e seus significados representativos do processo de construção local e diante disto, seus valores e testemunhos podem e devem ser preservados. E esta possibilidade se dá independentemente do tamanho, antiguidade ou beleza das cidades.

     Esta nova visão de patrimônio possibilita cada vez mais uma participação da sociedade e das Administrações Públicas Municipais no processo de valorização do patrimônio, ampliando, consequentemente, o interesse e a coerência nos trabalhos de preservação das cidades.
     Ituberá não foge à regra, sua estrutura física – ambientes construídos, ruas, avenidas e praças – registram e documentam diferentes fases de desenvolvimento e declínio, em diferentes instantes de tempo. Isto é história merece ser conhecida para poder ser preservada.

 Patrimônio intangível municipal

     Ituberá é um município pluricultural e deve este atributo ao conjunto de características étnicas que formaram seu povo: índios, portugueses e negros. Esta diversidade contribui para a formação da nossa identidade cultural.
     Assim sendo, a nossa identidade coletiva pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados dos nossos antepassados e que permanecem em nosso município há várias gerações. Aos mesmos podemos atribuir a capacidade de ligarmos o passado ao presente e darmos continuidade no futuro.
     Apresentamos abaixo algumas manifestações do patrimônio intangível municipal de Ituberá:
a.  Artesanato: utensílios domésticos e feitos de cipó, palha, piaçava e madeira.
b.  Manifestações folclóricas (cívicas, religiosas e populares): Novenário de Santo André, Tríduo de Nossa Senhora da Conceição, Novena de Nossa Senhora de Santana, Festa de São Braz na Lagoa Santa, Trezena de Santo Antônio, Festas Juninas, Romaria da Boa Viagem, Aniversário da Cidade, Candomblé Elétrico, Banda Boca de Lata, Terno de Reis, Quadrilha do Ridículo, Bumba-meu-boi, Burrinha, Mãe Candinha e terreiros de Candomblé .
c.   Culinária: moquecas de frutos do mar, banana e mamão verde, cocadas de frutas regionais, beijinho de goma com coco, beiju de rolo, canjica e bolo de raízes (aipim, mandioca e quiçare) .
d.  Tipos humanos: benzedeiras, caranguejeiros, marisqueiras, beiradeiros, camponeses e pescadores.
e.   “Causos” e lendas a exemplo as do quilombo da Lagoa Santa, e aprofundando ainda mais este tema, verificamos que existe uma grande diversidade no imaginário popular. Não podemos deixar de citar as informações coletadas pelo Professor Nelson de Araújo , que mapeou as regiões geo culturais do estado da Bahia:
(...) O mar, com efeito, preside há muito do espírito do povo de Ituberá. O mar e as suas assombrações, que atribulam os navegantes, a exemplo do “corpo santo”, luz azulada que aparece nos mastros dos barcos. É interpretada como um aviso de que vai haver naufrágio. O “biatatá” é também inimigo das embarcações, mas pode ser esconjurado mediante uma cruz ou um sino-salamão (signo Salomão) desenhado no casco.
O Biatatá, que assusta também em terra, é pela mesma forma luminosa. Trata-se, apenas, do nacional “boitatá”, já familiar do Pe. José de Anchieta ressalta Luís da Câmara Cascudo. Assombração de origem indígena, sua denominação se traduz por “cobra-de-fogo”. Corresponderia, no entendimento não assombrado, ao fogo-fátuo, ao passo que o corpo santo, de origem europeu-açoriana, de acordo com o mesmo autor, seria o fogo-santelmo.
Em Ituberá, aparece ainda Iemanjá, a mãe d’água da umbanda, e assim se fecha a ciranda dos três velhos imaginários nacionais – o europeu, o indígena e o africano – só possível em tal concentração e tal nitidez vocabular, no universo desse baixo-sul das baías de Tinharé e Camamu, por tanto tempo fechado ao mundo exterior pela carência de vias terrestres (...)

No processo de construção para a preservação do Patrimônio Cultural e da busca constante da identidade cultural, é que esse processo ganha força e nitidez  motivo que inspirou a EMFE Presidente Roosvelt a trazer para a Celebração dos 105 anos de Emancipação o tema acima citado  envolvendo a  escola nos mais diversos campos de ensino e aprendizagem,  junto com a sociedade e o poder público a conscientização e a preservação do tocante.
     O Conselho do Professor Baiardi , no discurso proferido ao povo de Ituberá, na comemoração dos seus 70 anos de emancipação política (14/08/79), ilustra o bem o desejo da equipe.
(...) Incutimos na nossa juventude o zelo patrimonial das coisas belas, estaremos passados, as gerações futuras, o fruto benéfico das nossas boas ações e assim fazendo, estaremos realçando Ituberá na tradição da própria Bahia e está se firmando no orgulho do nosso Brasil.

    
 Referência:

NORMANDIA, Josenildo dos Santos. Educação Patrimonial um estudo de Caso no Município de Ituberá. Faculdade da Ibiapaba, Ilhéus/Ba-2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário