EMEF PRESIDENTE ROOSEVELT
O que é
patrimônio?
Quando falamos em patrimônio, pensamos logo
em bens, em objetos de valor.
Pensamos em coisas que vão sendo
construídas e acumuladas no decorrer do tempo, ao longo da existência... Coisas
que podem ter um valor econômico, mas também valor efetivo, de uso, ou mesmo um
valor simbólico. Herança paterna, e nesse sentido, também tem a ver com a
pátria, e que podem referir-se a um complexo de bens, materiais ou não, sujeito
a direitos e posses.
E Patrimônio Cultural?
Trata-se também de um conjunto de objetos
ou bens de valor, com significado e importância para um grupo de pessoas. O
Patrimônio Cultural de uma sociedade, de um país, diz respeito a sua cultura,
que é todo o conhecimento que uma sociedade possui, é um processo dinâmico que
se manifesta nas artes, na ciência, na tecnologia, na política, na religião,
nas relações do cotidiano e que se utiliza das ideias, palavras, teorias e
políticas diversas para se expressar. Logo, o Patrimônio Cultural é um produto
coletivo, formado pelo conjunto de realizações de uma sociedade, e que vem
sendo construído ao longo de sua história. Pertence, portanto, a todos os
cidadãos. São essas realizações, produtos do trabalho e da criatividade de
todos, que distinguem as sociedades e grupos sociais uns dos outros, dando-lhes
seu sentido de identidade cultural.
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| Festa de Santo André, padroeiro de Ituberá (2011) | Foto: Vange Medeiros |
Bem, se toda a produção de uma sociedade ou
de um grupo social é o seu Patrimônio Cultural, então:
1. Esse patrimônio não é algo que foi criado uma
vez e permanece sempre igual; a criatividade de um povo continua se expressando
continuamente, inventando, mudando, adaptando seu modo de vida, de acordo com o
processo dinâmico da cultura.
2. Não apenas as obras de arte fazem parte do
patrimônio cultural; ele também inclui os objetos de uso diário que são
utilizados pelas pessoas nos diferentes períodos da história: vestimentas,
adornos, objetos de culto, instrumentos e equipamentos domésticos e de trabalho
etc.
3. O Patrimônio Cultural brasileiro está
construído não apenas pelas obras do passado, mas também por uma cultura viva e
variada, graças à rica diversidade cultural do país.
Tudo o que é produto da ação consciente e
criativa dos homens sobre o seu meio ambiente, é Patrimônio Cultural. Esses
bens e valores do Patrimônio Cultural podem ter um caráter material – objetos
concretos – ou não.
As ideias, teorias, doutrinas, os modos de
fazer e viver, são bens não-materiais. Através deles, a humanidade evolui, conhece
melhor a si própria e ao Universo, e garante sua sobrevivência no seu meio
ambiente.
Já os bens materiais, estes correspondem ao
produto concreto das ações dos seres humanos, dependendo, portanto, do
conhecimento acumulado pela sociedade, dos meios e instrumentos disponíveis, da
criatividade de seus autores, do próprio meio ambiente, e englobam toda a sorte
de coisas, objetivos, artefatos, construções.
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| Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição | Foto: Raphael Monteiro (2010) |
Por quê preservar?
Respeitar. Conservar, Defender. Manter a
integridade dos traços que definem o bem. Preserva-se por respeito à natureza,
à história, às coisas, e aos homens que produziram essas coisas: os bens
culturais que nos cercam. Preserva-se por respeito ao direito das gerações
futuras de conhecer e usufruir do que foi produzido por seus antepassados. Por
respeito à memória.
É assim que o mundo progride.
E a evolução se faz pela soma das
conquistas. Lamentavelmente, nem todos possuem a mesma consciência da
importância do seu Patrimônio Cultural, levando à destruição e à perda de uma
grande quantidade de bens de incalculável valor, por serem testemunhas
insubstituíveis da história de um povo.
Assim, por exemplo, a especulação
imobiliária pode vir a destruir áreas de interesse ambiental ou paisagístico,
imóveis ou conjuntos arquitetônicos e urbanísticos de grande valor histórico;
grandes empreendimentos econômicos, como usinas, garimpos, plantações em grande
escala, eventualmente, destroem sítios arqueológicos, paleontológicos,
científicos, além de comprometer o meio ambiente. Isto, sem falar das
interferências e modificações que podem vir a provocar nos hábitos, valores e
costumes de pequenas comunidades e de grupos indígenas.
Cada cidadão, portanto, deve ficar atento
às iniciativas que visam lucros ou vantagens imediatistas para uma pequena parcela
de indivíduos, sem se preocupar com as consequências futuras, essas iniciativas
poderão causar enormes prejuízos ao Patrimônio Cultural que pertence a todos.
O Patrimônio Cultural é um bem que, se
preservado, possibilita a evolução da humanidade em busca de conhecimento,
liberdade e qualidade de vida. É preciso garantir, então, que todos tenham
acesso, igualmente, aos bens culturais que constituem o seu patrimônio.
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| Vista aérea do Dique de Ituberá durante festa de São João (2013) | Foto: Duda Damásio |
Patrimônio tangível municipal
A cidade de Ituberá não se caracteriza
apenas pelas suas ruas e prédios, mas também pelos espaços que surgiram e
modificaram-se ao longo dos anos. O Patrimônio Cultural de Ituberá vai além de
seu patrimônio arquitetônico, sua implantação, seu desenho urbano. Ele está
diretamente ligado à história da ocupação do território brasileiro, através da
navegação e dos caminhos que ligaram este ponto do litoral ao interior do
estado da Bahia.
Este fato da história brasileira dá ênfase
ao patrimônio da cidade de Ituberá. A cidade encontra-se harmoniosamente
inserida na paisagem. Entretanto, observa-se uma expansão urbana desordenada em
direção ao manguezal.
A área urbana de Ituberá está localizada no
vale do Rio Serinhaém, num trecho mais ou menos plano, rodeado por morros onde
se encontram ainda remanescentes de vegetação da Mata Atlântica. Do ponto de
vista da morfologia urbana, a topografia, o rio e a vegetação, são os elementos
principais da configuração deste espaço.
A vegetação emoldura a paisagem e a
presença dos morros possibilita a existência de pontos de visuais de extrema
importância para o entendimento da dinâmica urbana da cidade. Desses visuais
descortinam-se belas paisagens do estuário do Rio Serinhaém e todo o desenho da
cidade, onde se pode observar sua espacialidade e sua relação com o espaço natural
– rio e encosta.
Seu sítio primitivo localizado na parte
alta – atual Vila de Santo André – possui um traçado típico dos assentamentos
jesuíticos dos primórdios da colonização, à semelhança de outras aldeias
localizadas no litoral brasileiro, como Trancoso e Porto Seguro.
Neste sítio, encontramos o primeiro
monumento religioso da cidade, a Igreja de Santo André, erguida no local da
primitiva capela jesuítica. A igreja está localizada em uma das extremidades da
praça com a fachada principal voltada para uma grande avenida – antigo terreiro
onde a população se reunia – onde se desenvolvem suas residências.
Sua fachada, voltada para o poente, sem
torres e bastante alterada parece-nos inacabada. A igreja possui planta
retangular, com sacristia lateral e cobertura em duas águas. O frontispício
apresenta janelas coroadas por arcos plenos e portas encimadas por frontões.
Em frente à igreja, no local do antigo
terreiro dos jesuítas, desenvolve-se um casario singelo de casas justapostas,
implantadas na testa da rua, com grande homogeneidade volumétrica, e uma
tipologia, em sua maioria, de porta e janela, delimitando a larga avenida que
hoje se encontra no local.
Mantendo uma tradição, a cidade realiza
neste local a festa popular em veneração a Santo André , que conta com a
participação da população da cidade e de regiões próximas.
No nível intermediário, na descida do morro
em direção a parte baixa da cidade, o casario que ocupa espaçadamente as curvas
de nível, contrasta com a vegetação da encosta, que serve como plano de fundo
da paisagem, tornando o especo aprazível e mantendo a relação da cidade do
cinturão verde que a circunda.
Ainda na descida do morro, encontra-se em
destaque a matriz da Igreja de Nossa Senhora da Conceição . Vale ressaltar que
a matriz funciona, morfologicamente, na cidade “como ponto de força”, pois de
vários pontos sua torre é visualizada, marcando a subida para a Vila de Santo
André e possibilitando ao observador se localizar no contexto urbano.
Construída na primeira metade do século
XIX, a matriz de Nossa Senhora da Conceição está edificada sobre um terrapleno,
possuído acesso através de uma grande escadaria, construída em 1930, juntamente
com o adro e com o cruzeiro que está localizado no patamar intermediário desta
escadaria.
Sua fachada está subdividida em dois
corpos, sendo emoldurada por cunhais e cornija. Seus vãos são emoldurados por
verga abaulada, encimada por friso ondulado. O corpo lateral da fachada se
prolonga dando origem a torre sineira, revestida de pastilhas, com terminação
em bulbo com lanternim. A parte central do frontispício é coroada por um
frontão de volutas ainda singelas.
Na parte baixa da cidade, encontramos um
sítio com ruas amplas, característica urbana do final do século XIX e início do
século XX, este padrão urbanístico cria uma sensação de amplitude num espaço
naturalmente reduzido pelo envolvimento de morros cria um contraponto com as
ruas estreitas e sinuosas que entrecortam o morro e se espalham pela cidade em
direção ao porto.
Ao se analisar a arquitetura civil presente
na parte baixa da cidade de Ituberá, verifica-se que esta apresenta,
principalmente, edifícios de pequeno porte (um ou dois pavimentos), na sua
maioria sem afastamento lateral, como são os exemplos de casas localizadas nas
ruas Viana, Getúlio Vargas, Dr. Antônio Lemos Maia e Barachisio Lisboa, Casas
de porta e janela, com telhado em duas águas e alguns exemplares, mais
recentes, que apresentam platibandas e elementos decorativos característicos do
final do século XX.
Nota-se que alguns sobrados também sofreram
modificações, procurando adequar-se aos novos estilos e à nova posição social
galgada pelos seus proprietários. Estes edifícios, apesar de possuírem nas suas
base uma estrutura formal e construtiva dos séculos XVIII e XIX, apresentam
elementos decorativos que caracterizam as construções de estilo eclético ou do ar
decô, como novos ornamentos, novas proporções nos vãos e novos estilos de
esquadrias, que denunciam as transformações sofridas no processo de assimilação
do “novo estilo” arquitetônico.
Podem ser apreciados também alguns
exemplares da arquitetura civil que se destacam por possuírem, além do valor
histórico, um valor artístico, destacando-se na malha urbana pelo seu porte,
tratamento adornativo, tipologia ou ainda pelo período de construção. Entre
estes vale citar o sobrado do século XIX localizado à Praça Tiradentes, as casa
da rua Barachisio Lisboa e o antigo Clube dos 25, hoje em estado de
arruinamento.
Na Praça Tiradentes e nas ruas mais
próximas ao cais, encontram-se ainda sobrados que possuíam dupla função:
comércio no pavimento térreo e residência no pavimento superior,
características essas típicas da arquitetura do século XIX, principalmente nas
cidades como Ituberá, que foram entreposto comercial.
Entre os exemplares da arquitetura oficial
existentes na cidade, destacamos o prédio da antiga Prefeitura Municipal,
localizado à rua Barachisio Lisboa e o prédio da antiga Câmara de Ituberá,
localizado na rua Ruy Barbosa.
O edifício da Prefeitura, em estilo
eclético tardio, construído entre as décadas de 10 e 20, possui planta
retangular, sendo seus cômodos distribuídos em dois pavimentos. A fachada é
coroada por platibanda, e na sua composição formal, ocorre uma predominância de
vazios sobre cheios. As janelas rasgadas do pavimento superior são resguardadas
por guarda-corpos de alvenaria que formam pequenas tribunas, sustentadas por
balcões de massa. Já a Câmara possui partido em dois movimentos, planta
retangular com fachada coroada por platibanda, e ornamentos bastante
simplificados.
Não podemos deixar de falar da vegetação
planejada que também faz parte do Patrimônio Cultural de Ituberá. Inserida na
mancha urbana, basicamente na Praça Tiradentes, ruas J. J. Seabra e Saúde, nas
avenidas Hildebrando de Araújo Góes e Duque de Caxias, com alguns remanescentes
de árvores que outrora eram podadas e davam a marca no perfil da cidade.
Encontra-se também na zona rural e
litorânea de Ituberá antigas casas de farinha e engenhos de dendê, ambos em
perfeito estado de conservação e em utilização.
Todo este patrimônio construído constitui o
suporte físico da cidade de Ituberá. As modificações sofridas em consequência
da ação do próprio homem determinam os diferentes níveis de interesse,
inspirando Lia Motta (1994) à concluir que:
(...) Toda
cidade tem sua história e seus significados representativos do processo de
construção local e diante disto, seus valores e testemunhos podem e devem ser
preservados. E esta possibilidade se dá independentemente do tamanho,
antiguidade ou beleza das cidades.
Esta nova visão de patrimônio possibilita
cada vez mais uma participação da sociedade e das Administrações Públicas
Municipais no processo de valorização do patrimônio, ampliando, consequentemente,
o interesse e a coerência nos trabalhos de preservação das cidades.
Ituberá não foge à regra, sua estrutura
física – ambientes construídos, ruas, avenidas e praças – registram e
documentam diferentes fases de desenvolvimento e declínio, em diferentes
instantes de tempo. Isto é história merece ser conhecida para poder ser
preservada.
Patrimônio intangível municipal
Ituberá é um município pluricultural e deve
este atributo ao conjunto de características étnicas que formaram seu povo:
índios, portugueses e negros. Esta diversidade contribui para a formação da
nossa identidade cultural.
Assim sendo, a nossa identidade coletiva
pode ser definida pela posse de objetos que foram herdados dos nossos
antepassados e que permanecem em nosso município há várias gerações. Aos mesmos
podemos atribuir a capacidade de ligarmos o passado ao presente e darmos
continuidade no futuro.
Apresentamos abaixo algumas manifestações
do patrimônio intangível municipal de Ituberá:
a. Artesanato: utensílios domésticos e feitos de
cipó, palha, piaçava e madeira.
b. Manifestações folclóricas (cívicas, religiosas
e populares): Novenário de Santo André, Tríduo de Nossa Senhora da Conceição,
Novena de Nossa Senhora de Santana, Festa de São Braz na Lagoa Santa, Trezena
de Santo Antônio, Festas Juninas, Romaria da Boa Viagem, Aniversário da Cidade,
Candomblé Elétrico, Banda Boca de Lata, Terno de Reis, Quadrilha do Ridículo,
Bumba-meu-boi, Burrinha, Mãe Candinha e terreiros de Candomblé .
c. Culinária: moquecas de frutos do mar, banana
e mamão verde, cocadas de frutas regionais, beijinho de goma com coco, beiju de
rolo, canjica e bolo de raízes (aipim, mandioca e quiçare) .
d. Tipos humanos: benzedeiras, caranguejeiros,
marisqueiras, beiradeiros, camponeses e pescadores.
e. “Causos” e lendas a exemplo as do quilombo da
Lagoa Santa, e aprofundando ainda mais este tema, verificamos que existe uma
grande diversidade no imaginário popular. Não podemos deixar de citar as
informações coletadas pelo Professor Nelson de Araújo , que mapeou as regiões
geo culturais do estado da Bahia:
(...) O mar, com
efeito, preside há muito do espírito do povo de Ituberá. O mar e as suas
assombrações, que atribulam os navegantes, a exemplo do “corpo santo”, luz
azulada que aparece nos mastros dos barcos. É interpretada como um aviso de que
vai haver naufrágio. O “biatatá” é também inimigo das embarcações, mas pode ser
esconjurado mediante uma cruz ou um sino-salamão (signo Salomão) desenhado no
casco.
O Biatatá, que
assusta também em terra, é pela mesma forma luminosa. Trata-se, apenas, do
nacional “boitatá”, já familiar do Pe. José de Anchieta ressalta Luís da Câmara
Cascudo. Assombração de origem indígena, sua denominação se traduz por
“cobra-de-fogo”. Corresponderia, no entendimento não assombrado, ao fogo-fátuo,
ao passo que o corpo santo, de origem europeu-açoriana, de acordo com o mesmo
autor, seria o fogo-santelmo.
Em Ituberá,
aparece ainda Iemanjá, a mãe d’água da umbanda, e assim se fecha a ciranda dos
três velhos imaginários nacionais – o europeu, o indígena e o africano – só
possível em tal concentração e tal nitidez vocabular, no universo desse
baixo-sul das baías de Tinharé e Camamu, por tanto tempo fechado ao mundo
exterior pela carência de vias terrestres (...)
No processo de
construção para a preservação do Patrimônio Cultural e da busca constante da
identidade cultural, é que esse processo ganha força e nitidez motivo que inspirou a EMFE Presidente Roosvelt
a trazer para a Celebração dos 105 anos de Emancipação o tema acima citado envolvendo a escola nos mais diversos campos de ensino e aprendizagem,
junto com a sociedade e o poder público
a conscientização e a preservação do tocante.
O Conselho do Professor Baiardi , no
discurso proferido ao povo de Ituberá, na comemoração dos seus 70 anos de
emancipação política (14/08/79), ilustra o bem o desejo da equipe.
(...) Incutimos
na nossa juventude o zelo patrimonial das coisas belas, estaremos passados, as
gerações futuras, o fruto benéfico das nossas boas ações e assim fazendo,
estaremos realçando Ituberá na tradição da própria Bahia e está se firmando no
orgulho do nosso Brasil.
Referência:
NORMANDIA, Josenildo
dos Santos. Educação Patrimonial um estudo de Caso no Município de Ituberá.
Faculdade da Ibiapaba, Ilhéus/Ba-2008



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