sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os primeiros anos de Ituberá

EMEF Pastor José Ramos de Araújo

Quando a África e a América do Sul se separaram, nos lembra Kelvin Flescher, há cem milhões de anos, a costa Brasileira ficou marcada por um série de cordilheiras que seguia paralelamente ao litoral, nessas montanhas de pedras pré-cambriana, varridas pelos ventos do Atlântico Sul, a Mata Atlântica evoluiu, rica em diversidade biológica.
Nas florestas sempre-vivas do Sul da Bahia, área que se estende por aproximadamente 50 km interior a dentro, desenvolveu-se uma das florestas mais ricas em plantas do mundo, lar singular de varias espécies de mamíferos e pássaros.

Mapa da Capitania de Ilhéus, por volta de 1620, | João Teixeira Albernaz, 1602-1666.

Os primeiros seres humanos que chegaram a costa da Bahia a uns 5 a 8 mil anos atraídos pela grande quantidade de mariscos disponíveis na região. Esses povos sambaquis viveram na Bahia por milhares de anos sem alterar a paisagem de forma duradoura.

Padre Antônio Vieira, da Companhia de Jesus, 1746



Nesse espaço, índios e natureza viviam uma inter-relação onde homem e natura em simbiose com  o tempo, a terra, os vegetais  e os animais e tudo que nela existia conviviam, agregavam. Até que em abril de 1500 a esquadra de trazia Pedro Alvares Cabral mudou o rumo dessa história.
Em 1530, as praias da Costa do Dendê recebe a visita do primeiro europeu, anos mais tarde, nesse território foram fundadas as aldeias Cairú, Boipeba e Camamu.

Vila de Santarém da Comarca dos Ilhéus, original do arquivo histórico ultramarino, Lisboa, 1794.
Em 1683, a missão jesuítica se instala, fundando aqui em Ituberá o aldeamento de Santo André e São Miguel de Serinhaém. Anos mais tarde, quando Pombal decide expulsar os jesuítas do Brasil o aldeamento é elevado a categoria de Vila, dando lugar no ano de 1758 a vila de Nova Santarém, provavelmente em homenagem à cidade lusitana que fica as margens do rio Tejo, costume comum à época; naquele momento, a mais nova vila da colônia portuguesa contava com quase cem palhoças, habitadas por cerca de 300 índios, alguns mamelucos, negros e portugueses.

As figuras característicos da Vila de Santarém foram, todavia os índios Paiaiás. Testemunhos do final do século XVIII atestam a especialidade destes índios para o trabalho na mata, a exemplo do Capitão Domingos Alves B. Muniz Barreto que na segunda metade do século XVIII, considerou os índios de Santarém: “insignes conhecedores de madeiras de construção e peritos trabalhadores dos Reais Cortes, e abridores de novas estradas para a condução dos paus a borda d’água, e lugar do embarque, e que fazem navegar muitos pondo-se a cavalo sobre eles por caudalosos rios e perigosos saltos d’água para evitar rodeios impraticáveis, e ás vezes maior despesa à Real Fazenda”.

Vila de Santarém - 1930 | Acervo: Celenalva Cabral

Baltazar da Silva Lisboa também se impressionou com a destreza dos índios de Santarém: “os quais principalmente se ocupam em fazer madeiras e desce-las pelas cachoeiras do rio de Jequié com extremo valor assentados ou em pé sobre as falcas de vinhático ou potumuju, com uma vara na mão a desviá-las das pedras, acometem as perigosas passagens e correntezas das cachoeiras”. Baltazar nos informa que: “com a maior constância encaram os perigos e com os mesmos se familiarizam: é de admirar e ver a esta gente montada sobre uma falca de vinhático, descerem nela pela correnteza ao rio ensoberbecido das águas do monte: ora enterrando-se sobre as pedras, ora escapando-se por entre as mesmas, com uma vara seguros, dirigindo-a e sem a desampararem, vendo acontecer esmagar-se o companheiro sobre as pedras, impelido das águas ou partido daquele o braço ou perna, animosos prosseguem pela pataca que ganham.

Foto: Almir Bendillati

No final do século XVIII, afim de facilitar o comercio e a comunicação entre as vilas, abriu-se uma estrada ligando a Bahia ao Rio de Janeiro pelo litoral, que ficou conhecida como Estrada Geral, esta  atravessava vila de Santarém, perpassando pelas povoações da  Finca e Itaberoé, trecho popularmente conhecido por estrada da finca, estrada da linha ou caminho dos jesuítas
Viajantes e funcionários a serviço da administração da coroa  observaram   que o trecho de maior dificuldade de locomoção dessa estrada se dava nas ladeiras da povoação da Finca, onde se produzia café, mandioca, algumas madeiras e pouco arroz. O caminho seguia por muitas ladeiras uma légua até a vila de Santarém, povoada de índios e portugueses.


A essa altura a presença de homens e mulheres negras na vila de Santarém já era intensa e foram de extrema importância para o seu desenvolvimento econômico, cultural e politico, participando decisivamente para o processo civilizatório do nosso municípioAbrindo o baú do passado de Ituberá a EMEF Pastor José Ramos cumpre o seu papel de corroborar para aproximar os ituberaenses dos fatos, personagens que deve estar para além da memoria. 

Referências:

CATÁLOGO PROJETO OURO VERDE BAHIA.  Como a Michelin promove a integração ente o Homem e a natureza do Baixo Sul da Bahia. Rio de Janeiro, gráfica Santa Maria, 2006.

DIAS, Marcelo Henrique. Economia, sociedade e paisagens da capitania e comarca de Ilhéus no período colonial. 2007. 424 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, Niterói.

SILVA, Egnaldo Rocha. Ituberá: breve histórico. Ituberá-BA. Texto escrito a pedido da Sec. de Cultura e Turismo, 2011.

3 comentários:

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  2. Muito legal o site, ótimas informações e desculpe dizer, mas até que fim a valorização da nossa história. Também faço um trabalho sobre Ituberá e tive muita dificuldade de encontrar fontes bibliográficas para minha pesquisa. Parabéns pela iniciativa.

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  3. Aprovado, parabéns a todos que contribuíram para realização deste blog. Estou preparando material para informação turística de Ituberá e as informações aqui presentes complementaram com meu trabalho. Gratidão!!

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