EMEF Pastor José Ramos de Araújo
Quando
a África e a América do Sul se separaram, nos lembra Kelvin Flescher, há cem
milhões de anos, a costa Brasileira ficou marcada por um série de cordilheiras
que seguia paralelamente ao litoral, nessas montanhas de pedras pré-cambriana,
varridas pelos ventos do Atlântico Sul, a Mata Atlântica evoluiu, rica em
diversidade biológica.
Nas
florestas sempre-vivas do Sul da Bahia, área que se estende por aproximadamente
50 km interior a dentro, desenvolveu-se uma das florestas mais ricas em plantas
do mundo, lar singular de varias espécies de mamíferos e pássaros.
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Mapa da Capitania de Ilhéus, por
volta de 1620, | João Teixeira Albernaz, 1602-1666.
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Os
primeiros seres humanos que chegaram a costa da Bahia a uns 5 a 8 mil anos
atraídos pela grande quantidade de mariscos disponíveis na região. Esses povos
sambaquis viveram na Bahia por milhares de anos sem alterar a paisagem de forma
duradoura.
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Padre Antônio Vieira, da Companhia de
Jesus, 1746
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Nesse
espaço, índios e natureza viviam uma inter-relação onde homem e natura em
simbiose com o tempo, a terra, os
vegetais e os animais e tudo que nela
existia conviviam, agregavam. Até que em abril de 1500 a esquadra de trazia
Pedro Alvares Cabral mudou o rumo dessa história.
Em
1530, as praias da Costa do Dendê recebe a visita do primeiro europeu, anos
mais tarde, nesse território foram fundadas as aldeias Cairú, Boipeba e Camamu.
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Vila
de Santarém da Comarca dos Ilhéus, original do arquivo histórico ultramarino,
Lisboa, 1794.
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Em
1683, a missão jesuítica se instala, fundando aqui em Ituberá o aldeamento de
Santo André e São Miguel de Serinhaém. Anos mais tarde, quando Pombal decide
expulsar os jesuítas do Brasil o aldeamento é elevado a categoria de Vila,
dando lugar no ano de 1758 a vila de Nova Santarém, provavelmente em homenagem
à cidade lusitana que fica as margens do rio Tejo, costume comum à época; naquele
momento, a mais nova vila da colônia portuguesa contava com quase cem palhoças,
habitadas por cerca de 300 índios, alguns mamelucos, negros e portugueses.
As figuras característicos
da Vila de Santarém foram, todavia os índios Paiaiás. Testemunhos do final do século XVIII atestam a especialidade destes
índios para o trabalho na mata, a exemplo do Capitão Domingos Alves B. Muniz
Barreto que na segunda metade do século XVIII, considerou os índios de
Santarém: “insignes
conhecedores de madeiras de construção e peritos trabalhadores dos Reais
Cortes, e abridores de novas estradas para a condução dos paus a borda d’água,
e lugar do embarque, e que fazem navegar muitos pondo-se a cavalo sobre eles
por caudalosos rios e perigosos saltos d’água para evitar rodeios impraticáveis,
e ás vezes maior despesa à Real Fazenda”.
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| Vila de Santarém - 1930 | Acervo: Celenalva Cabral |
Baltazar da Silva Lisboa também se
impressionou com a destreza dos índios de Santarém: “os quais principalmente se ocupam em fazer madeiras
e desce-las pelas cachoeiras do rio de Jequié com extremo valor assentados ou em pé sobre as falcas de vinhático ou potumuju,
com uma vara na mão a desviá-las das pedras, acometem as perigosas passagens e
correntezas das cachoeiras”. Baltazar
nos informa que: “com a maior constância encaram os perigos e com os
mesmos se familiarizam: é de admirar e ver a esta gente montada sobre uma falca
de vinhático, descerem nela pela correnteza ao rio ensoberbecido das águas do
monte: ora enterrando-se sobre as pedras, ora escapando-se por entre as mesmas,
com uma vara seguros, dirigindo-a e sem a desampararem, vendo acontecer
esmagar-se o companheiro sobre as pedras, impelido das águas ou partido daquele
o braço ou perna, animosos prosseguem pela pataca que ganham.
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Foto: Almir Bendillati
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No final do século
XVIII, afim de facilitar o comercio e a comunicação entre as vilas, abriu-se
uma estrada ligando a Bahia ao Rio de Janeiro pelo litoral, que ficou conhecida
como Estrada Geral, esta atravessava
vila de Santarém, perpassando pelas povoações da Finca e Itaberoé, trecho popularmente conhecido
por estrada da finca, estrada da linha ou caminho dos jesuítas
Viajantes e
funcionários a serviço da administração da coroa observaram
que o trecho de maior dificuldade de locomoção dessa estrada
se dava nas ladeiras da povoação da Finca, onde se produzia café, mandioca,
algumas madeiras e pouco arroz. O caminho seguia por muitas ladeiras uma légua
até a vila de Santarém, povoada de índios e portugueses.
A essa altura a presença de homens e mulheres negras na vila de
Santarém já era intensa e foram de extrema importância para o seu
desenvolvimento econômico, cultural e politico, participando decisivamente para
o processo civilizatório do nosso município. Abrindo o baú do passado de Ituberá a EMEF Pastor José Ramos cumpre o
seu papel de corroborar para aproximar os ituberaenses dos fatos, personagens
que deve estar para além da memoria.
Referências:
CATÁLOGO PROJETO OURO VERDE BAHIA.
Como a Michelin promove a
integração ente o Homem e a natureza do Baixo Sul da Bahia. Rio de Janeiro,
gráfica Santa Maria, 2006.
DIAS, Marcelo Henrique. Economia,
sociedade e paisagens da capitania e comarca de Ilhéus no período colonial. 2007.
424 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade
Federal Fluminense, Niterói.
SILVA, Egnaldo Rocha. Ituberá:
breve histórico. Ituberá-BA. Texto escrito a pedido da Sec. de Cultura e
Turismo, 2011.






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ResponderExcluirMuito legal o site, ótimas informações e desculpe dizer, mas até que fim a valorização da nossa história. Também faço um trabalho sobre Ituberá e tive muita dificuldade de encontrar fontes bibliográficas para minha pesquisa. Parabéns pela iniciativa.
ResponderExcluirAprovado, parabéns a todos que contribuíram para realização deste blog. Estou preparando material para informação turística de Ituberá e as informações aqui presentes complementaram com meu trabalho. Gratidão!!
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